É visível o crescente investimento das cidades na gestão de resíduos, com infraestruturas mais inteligentes, equipas operacionais mais preparadas e campanhas de educação ambiental que chegam a cada vez mais pessoas. No entanto, a realidade nas ruas conta uma história que obriga à reflexão sobre o caminho coletivo, que ainda temos de percorrer, enquanto comunidade.
A mudança de paradigma, que rompe com a indiferença às regras da cidade e ao seu sistema de resíduos, requer mais do que investimento: exige envolvimento e uma transformação profunda de hábitos, atitudes e, sobretudo, da forma como nos relacionamos com o que descartamos e com quem cuida dos resíduos que deixamos para trás.
Portimão está a fazer o seu caminho. Com estratégia, inovação e vontade de melhorar. Mas nenhuma mudança é sólida se não for partilhada. E não existe equipa de limpeza capaz de eliminar, sozinha, a marca diária de uma comunidade que não partilha os mesmos valores relativamente ao espaço público. A educação é fundamental para construir uma cultura de respeito, partilha e responsabilidade intergeracional.
O futuro constrói-se com o que decidimos preservar - Campanha “Recicla por Mim”: jovens que inspiram mudança
É neste contexto que surge a campanha “Recicla por Mim”, protagonizada por 16 crianças e jovens entre os 6 e os 15 anos. Integrada na missão “Zero Desperdício”, esta campanha aposta na geração mais nova como catalisadora de mudança na comunidade. Assente numa perspetiva de urgência em cuidar do futuro, apela à redução e separação dos resíduos, com destaque para a fração de orgânicos (restos de comida), sem esquecer os fluxos recicláveis — papel/cartão, vidro, plástico e metal.
A iniciativa pretende sensibilizar os portimonenses para a normalização de boas práticas ambientais, assegurando que as crianças e jovens de hoje possam desfrutar no futuro dos recursos naturais que ainda temos ao nosso dispor.
A Empresa Municipal de Águas e Resíduos (EMARP) tem a expetativa que o envolvimento de jovens participantes tão empenhados e carismáticos, que generosamente dão cara e voz à causa da valorização dos resíduos, inspire pais, familiares e amigos, criando uma mobilização comunitária que torne Portimão um exemplo real de sustentabilidade.
EMARP leva missão “Zero Desperdício” às Férias de Verão Municipais
Este ano, a missão “Zero Desperdício” também integra as Férias de Verão Municipais, um projeto que promove o acompanhamento e a ocupação dos tempos livres de 2.500 crianças e jovens portimonenses.
A parceria, inserida na política de responsabilidade social e ambiental da EMARP, inclui a oferta de t-shirts e mochilas alusivas ao movimento “Zero Desperdício”, bem como uma digressão da equipa de educação ambiental pelos diferentes grupos. Com jogos e dinâmicas divertidas, pretende-se reforçar junto dos mais novos a importância de reduzir e separar corretamente os resíduos, com foco especial nos restos de comida.
Separação seletiva de restos de comida é decisiva para diminuir o volume de resíduos enviados para aterro
Em Portugal cada cidadão produz, em média, cerca de 1,4 kg de resíduos por dia. De acordo com as metas definidas pela União Europeia, o país deve assegurar que, até 2035, 65% dos resíduos urbanos sejam preparados para reutilização ou reciclados, e, no máximo, 10% seja depositado em aterro.
A separação seletiva dos resíduos orgânicos é uma das vias mais relevantes para atingir estas metas, já que representam cerca de 40% do lixo indiferenciado doméstico. Desde 1 de janeiro de 2024, a recolha seletiva de biorresíduos ou a sua separação e valorização na origem passou a ser obrigatória para todos os municípios portugueses.
Neste contexto, o município de Portimão foi pioneiro na região algarvia e desenvolveu uma resposta concreta em 2022, através da disponibilização de contentores castanhos integrados nas ilhas ecológicas, campanhas de informação, recolha porta a porta (para restaurantes, escolas e instituições de solidariedade social) e a distribuição de baldes domésticos para a separação na origem. Este sistema permite aos munícipes separar os seus restos alimentares para que estes sejam transformados em composto 100% natural, através da Central de Valorização Orgânica da Algar.
Nos primeiros dois anos de implementação, os dados revelaram uma evolução positiva, com crescente adesão por parte da população (533 t em 2022; 730 t em 2023; 853 t em 2024). No entanto, os dados mais recentes indicam um ligeiro decréscimo face ao ano anterior, o que reforça a necessidade de manter ativa a sensibilização, o acompanhamento e o reforço positivo deste hábito ainda recente.
Educar para transformar: o papel da EMARP
Numa altura em que os desafios ambientais se intensificam, a EMARP tem vindo a reforçar o seu papel enquanto agente de mudança, com uma abordagem transversal que vai além da gestão eficiente da água e dos resíduos.
Desde 2021, através de campanhas criativas, ações pedagógicas em escolas, atividades em espaço público e projetos-piloto, que a educação ambiental se tem afirmado como um eixo estruturante da missão da empresa. Este trabalho, realizado em prol da formação de uma geração que deve crescer com bases cívicas muito sólidas, relativamente ao seu papel numa cidade sustentável e coesa, é um elemento essencial na transição para uma cidade mais consciente e resiliente, preocupada com o ambiente e com o bem-estar de todos os que nela coexistem.
Através do Programa de Educação e Proteção Ambiental (PEPA), ativado em março de 2024, foram realizadas, até ao momento, 301 ações e 45 participações em eventos e iniciativas, que permitiram chegar a 13 203 pessoas.
Portimão continua a ser, na região algarvia, um dos dois municípios que mais recicla. Mas os desafios continuam: em 2024, os portimonenses descartaram 30.200 toneladas de resíduos indiferenciados (82,5%), face a apenas 6.404 toneladas de matéria reciclável e orgânica (17,5%).
O poder da mudança está nas mãos de cada cidadão, no respeito e na forma como olha para o ambiente, para os recursos naturais, para o espaço público e para os outros.
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As ações realizadas no âmbito da implementação de Projetos de Recolha Seletiva de Biorresíduos, contam com o apoio do Fundo Ambiental, através do programa técnico e financeiro gerido pela AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve.